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Português

46


Gosto
quando me olhas
com esse olhar de festa
e passeias esses teus olhos felinos
nas minhas coxas
debruçando-os depois
nas minhas partes mais escondidas.
Gosto
quando me chegas
e me prendes pelos cabelos
e me impede de falar
com tua língua molhada.
Amo esse teu corpo
que canta escondido
e enlouquece devagar, devagar
com tudo o que digo.
esse amor acostumado
cheio de cotidianos.
Essa paixão que dilacera
e não sangra.
resíduo de um grito sem voz
que trago na garganta.
Encanto que fascina
feroz.
Que me abre mansa
e me curva e geme
e me levanta no ar.
E me pega com essas mãos
que grudam
instintivas como fera.
engolindo as sementes.
sem deixar alternativa.
E me fecunda
em um contato profano
deixando livre essa fera
que lança, transpassa, te intriga e te caça
em um fogo de alcova
cheio de escândalos
dentro.


47


Escutei a voz de Deus
quando ali, escondida no teu peito
conheci a cor da água
e senti na sombra
do meu corpo de mulher
a semente eleita, perfeita.
que haveria de levar-me
além do vento
além do porto de areia e luzes abertas,
além do infinito louco do teu nome
além das nuvens vagantes
com seus beibsoc5 sem pressa.
Era o segundo dia
da imensidão do teu amor,
e os pés desconhecidos
e a pele que se espalhava dentro
como renascer antes de fazer amor.
Antes de sentir a dor
da ternura de sermos um
como maçã na fatalidade
dos espasmos,
na profundidade da lua nova
quando atravessa o deserto que morre.
Havia alguma coisa em mim
que pedia ajuda
aos sons acostumados sem ti
às flores amarelas da minha realidade
às horas verdes dos suicidas.
E foi assim
navegando tuas águas
que perdi o sono
e a esperança de coisas possíveis.
Porque a flor falava
através dos teus lábios
criando mil delírios
e canções
às baleias e aos pulsos
que celebram essa grande obra.
Tu
que me ensinastes a escutar Deus
agora me levas a uma viagem impossível
no espaço
no coração da saudade.