Português
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Não esqueças de mim
De mim
que terminei as palavras
e vejo os dias assim adormecidos
como a eternidade que caminha
nas ruas dos meus pensamentos
vestidos de azul e paz.
Não esqueças de mim
que me perco em frente a um quadro
pintado somente com as cores
que esperam as noites.
Essas noites que trazem a lembrança
de ter feito amor contigo
ontem, há uma semana,
no ano passado, ou numa outra vida.
Sabe,
a mulher que despertastes,
eu a venci.
O vento ou a primavera, quem sabe,
levou embora
tudo o que eu tinha para arriscar,
tudo o que estava dentro
da inferior memória
e das estrelas sem pressa
que perfumavam de suor
esta minha pele
e o seu pecado mais mortal.
Os dias, os coloquei em fila.
E não vou mais apascentar
as minhas estrelas de interior e tão sozinhas
nesses dias que me atravessam
com sons errados,
espécie de gota/sussurro
desejando pudor.
Porque assim são as pessoas
que escolhem raciocinar
antes de traçar o tempo.
Já vistes um olhar que morre?
É como o desenho do limite
entre uma e outra Sole.
Fostes a onda do mar
que atravessava meus dedos
com particular e rara emoção.
Mas era um sonho sem casa
um delírio de tempo/lugar
aliado a uma baleia
e a um ponto do céu
longinquo demais.
Eu a venci.
Morre uma mulher que não viveu
a altura do teu céu
nem o profundo do teu mar.
Sinto muito.
Por ti...Por ela...
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A primeira estrela é um brilhante
galopando nos olhos.
É uma gota
ou pérola pálida
vestida de festa.
Obediente e perdida
nos grãos negros da noite
que murmuram:
‘ Deus!....’
É ponto de apoio no céu
e vai correndo
em direção ao amanhecer amigo
manchada de prata.
Para poder olhá-la
em meio à fila de anbsoc5
permiti
que a flecha silenciosa
dos teus olhos não emigrados
penetrasse meu peito.
Depois
ainda em dor
lhe disse:
‘Vá!...
Eis que deves pousar
além do mar
onde habita o meu Senhor.’
E entre o amanhecer e o entardecer
de cada dia,
acesa entre as nuvens,
a primeira estrela me saúda
e se vai
sobre um fio de melancolia...