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Português

AO MENINO DA BICICLETA AZUL

Menino, que anda nos trilhos
atento ao instante.
De magreza extrema, amando e sorrindo
com um coração que me pertencia.
Voz de paciência
livre nos caminhos da minha insônia.
Se me acordava com uma carícia
logo se perdia, doce,
nas horas de contemplação.
Menino de olhos maduros,
inconstante,
mais forque que a circunstância,
usando gravata borboleta
alheio a sua vontade.
Jura amor a acredita.
Um bem querer que passou a ser doído
e me surpreendeu
numa quase piedade de mim.
De mim,
que trago muitos outonos
e andava inutilmente
em meio a jardins modestos
como flor sem haste.
De mim,
que desfaleci
e me afoguei numa última doçura
espremendo o coração.
Sou um pássaro sem ar
e já não quero respirar.
Me chamam para o silêncio,
meu filho,
menino do meu maior amor.

CRÍTICA

Porque atiçar quem vai morrer primeiro?
Melhor seria gritar silêncios
e não provocar espantos.
Não deixar acuado o sangue e o vinho.
Não ferir nem devorar.
Se a corrida do tempo é nossa,
para que querer adiantamentos?
Que palhaçada é essa,
de provocar cegueira, amarrar sentidos
e criar tropeços na própria consciência?
Esqueça a rua, o curinga, a fita e o pudor.
Malicie os segredos.
Não cumpra promessas, nem as faça.
Aponte para a nascente
e esfregue a cara na solidão que te habita.
Sorria mostrando a gengiva
e não brinque de assombração.
Melhor ser apenas menino
e fazer de conta que perdeu o medo.