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Português

A MENINA E A ESPUMA

Buscarei ainda a sombra de uma vida,
aquela que despertava doçura nas manhãs de amor.
E aqueles pensamentos que desciam por sobre as águas
para desfazer a angústia dos dias.
Mas o cansaço das minhas mãos não alcança a luz
e existe desespero na carne perseguida pelo tempo que foge,
foge sem deixar-se penetrar pela beleza.
As estações se afundam em águas mortas de folhas apodrecidas
e transparentes solidões.
E invocam sobre os ramos um resgate ou um fim.
Um vento leve sopra sobre meus brinquedos de infância,
guardados com fé em uma noite, na dor do silencio
e agora sei que não existem cantos
que possam reviver as minhas fadas
exaltadas pelas ilusões.
Os homens, na escuridão das estradas esquecidas
recolhem qualquer lembrança
entre garrafas quebradas
e eu percorro o itinerário
de caricias distraídas,
de horas marcadas sem estrelas,
de sinfonias degradadas
em seu ritmo
pelos rumores do vazio.
Mas nesse tapa na cara
onde parece
que a harmonia dos templos
desmorona
em pequenos montes de ruínas
e o olho persegue
o azul de um mar
que a cada dia
fica mais distante,
não acredito
que o limbo
seja a amarga solução
para a salvação.
Permaneceram pétalas intactas,
emaranhados de sol no escuro,
o eco de uma sentença pura e limpa
que há tempos, com sua verdade, tocou o céu.
E o corpo da menina submissa, submerso,
deixou sobre as ondas um oráculo de espuma
que me persegue com sua alegria enlouquecida.
Então é inútil que eu atice o fogo do verão
para que queime tudo com a sua melancolia,
se basta apenas um sorriso
um indício de paixão
um protesto pela vida
para transformar os dias passados
no nosso amanhã.

TE ESPERO

Do nada veio o teu riso,
a doçura e o canto
que me renovam o olhar.
Um canto silencioso,
de horizontes altos e
de danças triunfantes
despertando as sementes.
Cuida de mim com a tua solidão
e te abandona totalmente no jogo
para que eu possa te doar a imensidão
Cuida de mim com o deus que te convém
e interrogue aos céus
para que eu possa te chamar
e te confundir
aqui
onde iniciam os caminhos
que parecem únicos.
E viaje em mim, amor.
Nos mesmos lugares desconhecidos,
nos pés que avançam eternidades,
nas sombras que ocupam os céus e as águas,
no que foi deixado suavemente cair,
nos meus reinos de força inocente,
no obsceno que chove sobre o meu coração,
nas minhas mãos que são tuas e de ninguém,
no abandono que cabe nas noites e no vazio.
Viaje em mim
que te ofereço as lágrimas e o desejo,
o anjo que dança e conduz,
o amor que perseguimos e habita em nós.
O caminho é o espaço
entre tu e eu.
E o tempo
é o dos nossos passos.